Quem é que pensa que a maioria
dos portugueses SÓ se motiva por dinheiro?
Quem é que pensa que a maioria da Sociedade Portuguesa não tem dignidade, nem
capacidade de reacção?
Que nós, a maioria dos
portugueses, de todas as condições, só nos ofendemos com quem nos rouba uns
euros, e não com quem nos obriga do alto dum temporário poleiro, a entregar-lhe
não só o dinheiro, mas também a alma, também o silêncio da revolta impotente,
de humanos violados na mais essencial das condições de Humanidade.
A Dignidade de ser. Livres.
Livres, e capazes de dizer não,
sem por isso ser submetidos, sem alternativa, à vontade escravizante dum
qualquer semelhante. Quem, de forma generalizada pensa assim de nós? - infelizmente,….
somos Nós, condicionando-nos a nós próprios por submissão ás direitas.
Há quem pense, mais à direita,
mas também à esquerda, que a diferença entre uma coisa e outra (governar e mandar) se resume apenas,
numa questão quantitativa, material e financeira. Tenho consciência da
importância do quantitativo para poder sobreviver neste Mundo do TER, mas compreendo
que em circunstâncias limites, de encontro com as próprias razões do SER, o
passional intrínseco do Ser Humano se revolte, sem cálculos de nenhuma espécie,
contra o pretendido aprisionamento e domínio do Espírito, da consciência e da
personalidade.
Nestas condições, já pouco
interessam os tostões ou os milhões. Socialmente, emerge algo mais alto e forte
que os exércitos e as repressões arbitrárias, algo que anula até razões
particulares e se transforma em expressão de sentimento colectivo, em paixão
pouco ou nada alimentada por razões. Nessas condições, a única razão que
prevalece é a da multidão, verdadeiramente soberana e irracional…O Caos? –
talvez!
Á
mulher de César…não basta ser…!
Não ter percebido, que a
arrogância e o aparente desfrute de mandar, (muito mais que o valor das medidas
impostas), despertaram e acicataram a
vontade de “lavar” a ofensa que nos faziam, foi talvez o maior dos erros dum jovem lobo
impreparado, convencido que era dono duma alcateia à sua imagem, incapaz de
distinguir e reconhecer cidadãos entre os seres que o tinham guindado ao poder.
Os portugueses tinham contas a
ajustar com quem os tinha ofendido, tratando-os como seres inferiores e sem
auto – estima, irritações que, de início, só implicitamente tinham a ver com o
bem estar material, mas que passaram a pertencer ao foro do SER, cujos valores
nunca se afirmaram especialmente penetráveis à inteligência de quem ambiciona o ter, sobre todas as coisas.
Não!
A verdadeira diferença entre
Governo e Oposição, não pode ser SÓ quantitativa – isso é um logro, A
FUNDAMENTAL DIFERENÇA não são os milhões ou os tostões, a verdadeira diferença…
é de princípios e de ter ou não ter sensibilidade para ser líder político, para
respeitar o sofrimento dos governados. Por pouco que estas coisas sejam
valorizadas pela direita, e insuficientemente defendidas pela esquerda.
.
Apesar de tudo, a maioria de esquerda que nos governa, foi e
ainda é, até ver, o instrumento de resgate da violentação dum povo a quem
quiseram aviltar e retirar-lhe a consciência; evitando a tempo, uma muito maior
explosão social de consequências imprevisíveis.
Camilo Mortágua