terça-feira, 24 de setembro de 2019







A LIBERDADE, OS PORTUGUESES  E A EMIGRAÇÃO



Também podíamos dar outra orden às palavras que formam o título, podíamos! Mas em nada alterávamos a imediata percepção dum português sobre o assunto que pretendemos abordar neste texto. Estas três palavras. – Portugal – emigração – Liberdade;. envolvem e acompanham  tão normalmente a vida das famílias portuguesas,, como o sentimento de viver e morrer.

Neste País, por natureza e bravura, fixado ao abrigo das montanhas da extremidade ocidental das terras então conhecidas, últimos redutos aquém do infinito e misterioso mar, entre pouca terra e o mar imenso, teve, desde a origem, de aprender a navegar, em terra ou no mar.
Ir--- Conhecer os outros , voltar ou não – foi sempre a motivação para superar o destino e a pobreza própria, material e espiritual, mas também, uma certa ambição, mais que desumana de  dominar “!.

Por necessidade ou ambição, tomámos o planeta por destino, e o desconhecido, pelo Paraíso! e fomos, viver e morrer por todos os países e cemitérios da terra. Por nossa vontade, submetidos à ambição de encontrar fortuna e LIBERDADE. A primeira algumas vezes encontrada, mas nunca a segunda.…- A LIBERDADE-  sempre tão mais longínqua, quanta seja a proximidade da fortuna, porque esta, traz quase sempre consigo  uma qualquer submissão,uma qualquer perda de LIBERDADE.
Sem sequer suspeitarmos ser,. nós próprios, os portadores dessa impossibilidade de conjugar riqueza com liberdade, proveniente da experiência dum mutante passado.

Sem ter experimentado individualmente a LIBERDADE, agrilhoados pela ambição histórica e colectiva da grandeza da Nação, deixamos de ter a possibilidade. – a LIBERDADE- de cuidar  dos próprios sentimentos, ocasionando a extensão sistémica do egoismo social hoje prevalecente, da qual resulta a luta de todos contra todos, cada qual em busca do maior conforto,.Primeiro a nível de grandes colectivos (países) e, depois, entre cada unidade familiar ou pessoa!..

Não conhecendo a Liberdade em nós., raramente fomos capazes de compreender o que tirávamos aos outros.
Essa carência do sentido solidário, prevalecente naquela época “heróica”, mais tarde suavizada pelos embalos reflexivos das amenidades pseudo literário – históricas,  e a natural inclinação para a suave poetização dos dramas da vida e da história; á mistura com alguma perda de coragem: parece ter penetrado fundo ao longo destes quase dois milénios constituintes da actual configuração maioritária da escala de  valores da sociedade Portuguesa,,em particular.

Sociedade, considerada ocasionalmente  de “brandos costumes - mais hipócrita? ).e: muitíssimo menos fracturante e agressiva, que nos estados e populações do norte da   




Europa, onde por influências de ordem filosófico - religiosas e culturais; carregadas de objectividades relativamente mais mercantis e materialistas, se geraram relações e conflitos intensos  e  altamente traumáticos..



As teias que os homens tecem, ao longo dos tempos, criam realidades sociológicas diferenciadas, mas, ao mesmo tempo, com linhas de força semelhantes e referenciadoras da sua época.

A atitude dos portugueses, como indivíduos e como nação, em relação ás emigrações de hoje, também são o resultado do processo histórico da criação e evolução do País, e da consciência colectiva da sua sociedade, em confronto continuo e global, com o resto do Mundo.

As grandes   manifestações públicas de solidariedade,  acontecem com mais facilidade, como resposta espontânea a uma ocorrência inesperada, pontual, merecedora dum gesto
demonstrativo único; do que , quando se trate de uma demonstração de atitude permanente contra ou a favor, de qualquer coisa que exija disponibilidade  assídua e permanente demonstração de adesão á causa.

Para ser em favor da LIBERDADE E DO Pensamento Crítico, sincera e permanentemente, é necessário muito mais que um acto espontâneo, é necessário no mínimo, ser vigilante atento e corajoso, sem medo de socialmente ser denunciante público dos actos e intenções de quem ataca e procura destruir a vida d as pessoas, impossível sem LIBERDADE.

A intensidade de uma demonstração de solidariedade, nem sempre corresponde á importância social do assunto que a motiva ou do nível de adesão social ao assunto evocado. A emigração, os refugiados, o escândalo das criminosas mortes por falta de assistência, o drama civilizacional que tudo isso significa, não tem merecido , dos Estados e populações europeias, a solidariedade que o assunto exige. Nós, portugueses, ancorados nos comportamentos alheios , ou não; temos assinalado muito pontualmente a nossa tímida desilusão pelo comportamento europeu.

Ser solidário , não pode significar  apenas dizer que está mal, é necessário, é urgente e desde sempre já tardio, que, como co-responsáveis  pelo “porto de abrigo” estejamos á altura de satisfazer condignamente ,mesmo que com algum esforço próprio, uma das maiores dívidas históricas dos povos europeus (em particular os do sul, motivo suficiente para excluir os do norte ? ) para com os povos africanos..

Sobretudo, nós, portugueses, com uma “casa pequenina”  uma casa para quem não dispõe de paz e abrigo. Nestas ocasiões, temos que dar provas de ter bem entendido a nossa própria história, de dar provas: - De que, para nós::

LIBERDADE… É SINÓNIMO DE EMIGRAÇÃO

 E,  EMIGRAÇÃO É UMA PALAVRA PORTUGESA,

 por nós bem compreendida e sentida, em todas as suas dimensões, sem atitudes infantis
de perguntar -  porquê.?

Defensores assumidos do pensamento crítico, encontramos  no acto de estender a mão solidária a alguém que se  afoga, a excepção mais que justificada, para nunca recorrer ao pensamento crítico,  antes da acção.





Camilo Mortágua
23/09/2019

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