A LIBERDADE, OS PORTUGUESES E A EMIGRAÇÃO
Também podíamos dar outra orden às palavras que formam o
título, podíamos! Mas em nada alterávamos a imediata percepção dum português
sobre o assunto que pretendemos abordar neste texto. Estas três palavras. –
Portugal – emigração – Liberdade;. envolvem e acompanham tão normalmente a vida das famílias
portuguesas,, como o sentimento de viver e morrer.
Neste País, por natureza e bravura, fixado ao abrigo das
montanhas da extremidade ocidental das terras então conhecidas, últimos redutos
aquém do infinito e misterioso mar, entre pouca terra e o mar imenso, teve,
desde a origem, de aprender a navegar, em terra ou no mar.
Ir--- Conhecer os outros , voltar ou não – foi sempre a
motivação para superar o destino e a pobreza própria, material e espiritual,
mas também, uma certa ambição, mais que desumana de dominar “!.
Por necessidade ou ambição, tomámos o planeta por destino, e
o desconhecido, pelo Paraíso! e fomos, viver e morrer por todos os países e
cemitérios da terra. Por nossa vontade, submetidos à ambição de encontrar
fortuna e LIBERDADE. A primeira algumas vezes encontrada, mas nunca a segunda.…-
A LIBERDADE- sempre tão mais longínqua,
quanta seja a proximidade da fortuna, porque esta, traz quase sempre consigo uma qualquer submissão,uma qualquer perda de
LIBERDADE.
Sem sequer suspeitarmos ser,. nós próprios, os portadores
dessa impossibilidade de conjugar riqueza com liberdade , proveniente
da experiência dum mutante passado.
Sem ter experimentado individualmente a LIBERDADE, agrilhoados
pela ambição histórica e colectiva da grandeza da Nação, deixamos de ter a
possibilidade. – a LIBERDADE- de cuidar
dos próprios sentimentos, ocasionando a extensão sistémica do egoismo social
hoje prevalecente, da qual resulta a luta de todos contra todos, cada qual em
busca do maior conforto,.Primeiro a nível de grandes colectivos (países) e, depois,
entre cada unidade familiar ou pessoa!..
Não conhecendo a Liberdade em nós., raramente fomos capazes
de compreender o que tirávamos aos outros.
Essa carência do sentido solidário, prevalecente naquela
época “heróica”, mais tarde suavizada pelos embalos reflexivos das amenidades
pseudo literário – históricas, e a
natural inclinação para a suave poetização dos dramas da vida e da história; á
mistura com alguma perda de coragem: parece ter penetrado fundo ao longo destes
quase dois milénios constituintes da actual configuração maioritária da escala
de valores da sociedade Portuguesa,,em
particular.
Sociedade, considerada ocasionalmente de “brandos costumes - mais hipócrita? ).e:
muitíssimo menos fracturante e agressiva, que nos estados e populações do norte
da
Europa, onde por influências de ordem filosófico - religiosas
e culturais; carregadas de objectividades relativamente mais mercantis e
materialistas, se geraram relações e conflitos intensos e altamente
traumáticos..
As teias que os homens tecem, ao longo dos tempos, criam
realidades sociológicas diferenciadas, mas, ao mesmo tempo, com linhas de força
semelhantes e referenciadoras da sua época.
A atitude dos portugueses, como indivíduos e como nação, em
relação ás emigrações de hoje, também são o resultado do processo histórico da
criação e evolução do País, e da consciência colectiva da sua sociedade, em confronto
continuo e global, com o resto do Mundo.
As grandes
manifestações públicas de solidariedade,
acontecem com mais facilidade, como resposta espontânea a uma ocorrência
inesperada, pontual, merecedora dum gesto
demonstrativo único; do que , quando se trate de uma
demonstração de atitude permanente contra ou a favor, de qualquer coisa que
exija disponibilidade assídua e
permanente demonstração de adesão á causa.
Para ser em favor da LIBERDADE E DO Pensamento Crítico,
sincera e permanentemente, é necessário muito mais que um acto espontâneo, é
necessário no mínimo, ser vigilante atento e corajoso, sem medo de socialmente
ser denunciante público dos actos e intenções de quem ataca e procura destruir
a vida d as pessoas, impossível sem LIBERDADE.
A intensidade de uma demonstração de solidariedade, nem
sempre corresponde á importância social do assunto que a motiva ou do nível de
adesão social ao assunto evocado. A emigração, os refugiados, o escândalo das
criminosas mortes por falta de assistência, o drama civilizacional que tudo
isso significa, não tem merecido , dos Estados e populações europeias, a
solidariedade que o assunto exige. Nós, portugueses, ancorados nos
comportamentos alheios , ou não; temos assinalado muito pontualmente a nossa
tímida desilusão pelo comportamento europeu.
Ser solidário , não pode significar apenas dizer que está mal, é necessário, é
urgente e desde sempre já tardio, que, como co-responsáveis pelo “porto de abrigo” estejamos á altura de
satisfazer condignamente ,mesmo que com algum esforço próprio, uma das maiores
dívidas históricas dos povos europeus (em particular os do sul, motivo
suficiente para excluir os do norte ? ) para com os povos africanos..
Sobretudo, nós, portugueses, com uma “casa pequenina” uma casa para quem não dispõe de paz e
abrigo. Nestas ocasiões, temos que dar provas de ter bem entendido a nossa
própria história, de dar provas: - De que, para nós::
LIBERDADE… É SINÓNIMO DE EMIGRAÇÃO
E, EMIGRAÇÃO É UMA PALAVRA PORTUGESA,
por nós bem compreendida
e sentida, em todas as suas dimensões, sem atitudes infantis
de perguntar - porquê.?
Defensores assumidos do pensamento crítico, encontramos no acto de estender a mão solidária a alguém
que se afoga, a excepção mais que
justificada, para nunca recorrer ao pensamento crítico, antes da acção.
23/09/2019
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